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domingo, 23 de julho de 2017

Minha infância - Voz poética de Fátima Alves - Poetisa da Caatinga



Minha infância -  Ensaios poéticos  ( antes de me mostrar escritora)
                              ******Minha infância*******
Texto escrito antes de me tornar oficialmente poetisa e escritora
           Quando criança vivi uma infância repleta de experiências  necessárias á constituição do sujeito desejante e aprendente que habita meu corpo e meu organismo. Juntamente com meus irmãos e irmãs vivenciamos as mais diversificadas  experiências, envolvendo alegrias, tristezas, dores, magia, inocência e encantamentos. Tivemos que viver muitas situações desagradáveis, mas sempre prefiro descrever as cenas agradáveis, embora, aquelas dolorosas também tenham sido importantes para a estruturação da nossa modalidade particular de ensinar e aprender.
            Nossa vida era tão simples! Que sempre me senti misturada a natureza, nunca me vi a parte dela. Aprendia a ver o mundo com os olhos da minha pequenina inocente alma.  E dessa forma, o nosso tempo transcorria sem que a gente percebesse, entre os caminhos de casa para o rio, para a roça e para a escola. Naquele recanto do nosso pequeno mundo, tudo que fazíamos tinha grãos de esperança para nos sustentar até a chegada da colheita.
           Agora que vejo, lá atrás a minha mocidade... Gosto de lembrar ternamente dos momentos em que brincávamos livremente pelos campos, os quais, na maioria do tempo, se mostravam secos, mas tinha seu tempo de ficarem verdes e alegres, num período que parecia um paraíso. Esse tempo era o inverno, que chegava cheio de bonanças, trazendo  os animais silvestres, e verdejando a mata, que orgulhosa, se enfeitava com singelas e raras flores. Pela lente do meu olhar, tudo ali era singelamente belo e encantador.
            O Rio! O Nosso Rio... corria bravamente ou serenamente pelas serras e vales. Um espetáculo que todo ano vivenciávamos de forma impar, pois jamais foi igual para nosso olhar e sentir... No ar, sentíamos a brisa fresca, misturando-se  ao perfume das flores. E tudo nesse tempo nos fazia felizes. Simplesmente, porque a água na caatinga, chega como uma deusa e faz tudo que é vida acordar para viver intensamente pouco tempo. E na magia desse breve tempo, aprendíamos a arar a terra, a plantar, a cultivar e a esperar o tempo de colher e de pescar. Ao mesmo tempo, era também possível  vivenciar as mais agradáveis brincadeiras, próprias da nossa cultura, como, tomar banho  no rio, nadar de diversas maneiras, pular  do alto das ingazeiras, oiticicas ou das ribanceiras, nas águas marrons ou cristalinas do nosso rio, pois ele vivia mudando de cor a cada temporada de chuvas.
             E quando então chegava as tão esperadas noites de lua cheia, nos encantávamos com a beleza do seu véu de claridade, e como lá no sítio ainda não tinha chegado energia, nem televisão, o terreiro das casas se transformavam em palco, onde brincávamos de cantigas de roda,, bandeirinhas, cair no poço, tica, passar o anel, e outras infinidades de brincadeiras daquela  época.  
              Nas noites escuras, sem lua, sentávamos na salas ou no alpendre á luz da lamparina. E empolgados (as) esperávamos as histórias de trancoso contadas pelos mais velhos. Também ouvíamos frequentemente programas noturnos de rádio.  E quando chegava o final de semana, os terreiros eram varridos para receber visitas a tardinha. E nós crianças brincávamos de casinha e de cozinhar. E ainda  tinha os folhetos das melhores músicas das paradas de sucesso,   e principalmente  os cordéis, que traziam os novos casos acontecidos para serem contados e cantados ali para todos.
             Ao relembrar aqueles momentos, arquivados na memória, sinto-me orgulhosa em poder descrever cenas felizes da minha infância, e no entanto, desejo um dia, quem sabe, escrever um livro e dedicá-lo a todas as pessoas da caatinga, que assim como eu, tiveram o privilégio de nascerem e serem criadas no campo.
Maria de Fátima Alves de Carvalho
Natal, Parque dos Coqueiros-2001
Obs:  O Sonho se realizou. Já escrevi  e publiquei 04 livros. Todos dedicados ao meu povo... 
"Florescer da Alma"/2009
"Retratos Sentimentais da Vida na Caatinga"/2010
"Palavras Singelas e Encantamentos..."/2011 
"Letras de Caatingueira"/2018