Minha
infância - Ensaios poéticos ( antes de me
mostrar escritora)
******Minha
infância*******
Texto
escrito antes de me tornar oficialmente poetisa e escritora
Quando
criança vivi uma infância repleta de experiências necessárias á constituição do sujeito
desejante e aprendente que habita meu corpo e meu organismo. Juntamente com
meus irmãos e irmãs vivenciamos as mais diversificadas experiências, envolvendo alegrias, tristezas,
dores, magia, inocência e encantamentos. Tivemos que viver muitas situações
desagradáveis, mas sempre prefiro descrever as cenas agradáveis, embora,
aquelas dolorosas também tenham sido importantes para a estruturação da nossa
modalidade particular de ensinar e aprender.
Nossa vida era tão simples! Que sempre me
senti misturada a natureza, nunca me vi a parte dela. Aprendia a ver o mundo
com os olhos da minha pequenina inocente alma.
E dessa forma, o nosso tempo transcorria sem que a gente percebesse, entre
os caminhos de casa para o rio, para a roça e para a escola. Naquele recanto do
nosso pequeno mundo, tudo que fazíamos tinha grãos de esperança para nos
sustentar até a chegada da colheita.
Agora que
vejo, lá atrás a minha mocidade... Gosto de lembrar ternamente dos momentos em
que brincávamos livremente pelos campos, os quais, na maioria do tempo, se
mostravam secos, mas tinha seu tempo de ficarem verdes e alegres, num período
que parecia um paraíso. Esse tempo era o inverno, que chegava cheio de
bonanças, trazendo os animais
silvestres, e verdejando a mata, que orgulhosa, se enfeitava com singelas e
raras flores. Pela lente do meu olhar, tudo ali era singelamente belo e
encantador.
O Rio! O
Nosso Rio... corria bravamente ou serenamente pelas serras e vales. Um
espetáculo que todo ano vivenciávamos de forma impar, pois jamais foi igual
para nosso olhar e sentir... No ar, sentíamos a brisa fresca, misturando-se ao perfume das flores. E tudo nesse tempo nos
fazia felizes. Simplesmente, porque a água na caatinga, chega como uma deusa e
faz tudo que é vida acordar para viver intensamente pouco tempo. E na magia
desse breve tempo, aprendíamos a arar a terra, a plantar, a cultivar e a
esperar o tempo de colher e de pescar. Ao mesmo tempo, era também possível vivenciar as mais agradáveis brincadeiras,
próprias da nossa cultura, como, tomar banho
no rio, nadar de diversas maneiras, pular do alto das ingazeiras, oiticicas ou das
ribanceiras, nas águas marrons ou cristalinas do nosso rio, pois ele vivia
mudando de cor a cada temporada de chuvas.
E quando
então chegava as tão esperadas noites de lua cheia, nos encantávamos com a
beleza do seu véu de claridade, e como lá no sítio ainda não tinha chegado
energia, nem televisão, o terreiro das casas se transformavam em palco, onde
brincávamos de cantigas de roda,, bandeirinhas, cair no poço, tica, passar o
anel, e outras infinidades de brincadeiras daquela época.
Nas
noites escuras, sem lua, sentávamos na salas ou no alpendre á luz da lamparina.
E empolgados (as) esperávamos as histórias de trancoso contadas pelos mais
velhos. Também ouvíamos frequentemente programas noturnos de rádio. E quando chegava o final de semana, os
terreiros eram varridos para receber visitas a tardinha. E nós crianças
brincávamos de casinha e de cozinhar. E ainda tinha os folhetos das melhores músicas das
paradas de sucesso, e principalmente os cordéis, que traziam os novos casos
acontecidos para serem contados e cantados ali para todos.
Ao relembrar aqueles momentos,
arquivados na memória, sinto-me orgulhosa em poder descrever cenas felizes da
minha infância, e no entanto, desejo um dia, quem sabe, escrever um livro e
dedicá-lo a todas as pessoas da caatinga, que assim como eu, tiveram o
privilégio de nascerem e serem criadas no campo.
Maria de
Fátima Alves de Carvalho
Natal,
Parque dos Coqueiros-2001
Obs: O Sonho se realizou. Já escrevi e publiquei 04 livros. Todos dedicados ao meu povo...
"Retratos Sentimentais da Vida na Caatinga"/2010
"Palavras Singelas e Encantamentos..."/2011
"Letras de Caatingueira"/2018
"Letras de Caatingueira"/2018